Por: Bruna Brambilla (Subdivisions) e Isis Salvaterra (Toi.Toi.Musik)
Tradução: Mariana Schiller Franco
O Uruguai tem uma cena muito interessante que sempre se destacou do restante da América Latina. A cultura do vinil e “digging” continuam tão fortes nos dias e tempos atuais quanto eram nos anos 90.
Foi esse traço peculiar que captou a atenção dos radares europeus nos últimos anos. Uma das pessoas que viveu e sentiu isso de perto foi a Isis Salvaterra, da Toi.Toi.Musik, quem sempre esteve lado a lado com a gente desde a idealização do projeto da Subdivisions.
Devido ao seu trabalho com o uruguaio Nicolas Lutz, ela se familiarizou tanto com o Uruguai, sua cena e a nova onda de artistas vindo de lá, que não poderíamos encontrar ninguém melhor para conduzir essa entrevista com o excepcional DJ e produtor Z@P, que se apresenta na Subdivisions essa sexta-feira, 03 de março.
Z@P é peça chave na Phonotheque Uruguai, e quem teve oportunidade de dividir os decks com ele e DJ Koolt por lá foi nossa residente Tati Pimont, na festa do coletivo No Way Back, linha de frente formada por Nacho Cabanelas, Diego e Juan Rosserie, com o apoio e total suporte de Agustin Becoña, que dão duro para fazer um bom trabalho, assim como nós.
Em dezembro de 2016, Z@P lançou um EP pela label Melliflow, a convite da Vera. Para 27 de março, tem outro EP a ser lançado pela Traffic Records. Estamos ansiosos para sua apresentação na Subdivisions hoje à noite! (saiba mais aqui).
Obrigada desde já, Isis, por aceitar nosso convite. A bola é sua.
HOUSE MAG – Você poderia nos contar um pouco de você? Nome, onde nasceu, onde cresceu, família e origens?
Z@P – Ok, meu nome é Fernando Zapico, é daí que vem o nome Z@P. Eu nasci aqui mesmo, em Montevidéu, em 1985 e vivo aqui desde então.
HM – O que te trouxe à música e, mais especificamente à música eletrônica?
Z@P – Desde sempre a música ocupou um importante papel no meu dia a dia, desde muito novo eu sempre me interessei por aparelhos eletrônicos e tecnologia em geral, especialmente as sonoras.
Mas, para falar diretamente sobre música eletrônica, a minha primeira experiência foi aos 16 anos quando fui pela primeira vez no Club “Milenio” aqui em Montevideo. Milenio era um Club incrível onde realmente se respirava todos os elementos do underground que fazem uma festa ser boa, esse era o berço da cena underground do Uruguai, no fim dos anos 90 até 2007. Hoje em dia a “Phonotheque” assumiu esse posto.
Depois desse dia eu fiquei completamente apaixonado pela música, suas possibilidades e a magia que certas noites podem ter quando tudo está feito da forma correta.
HM – Em toda América do Sul, o Uruguai parece ser o único país que manteve viva a cultura do vinil, em uma região que os outros países a perderam. Por que você acha que isso aconteceu?
Z@P – Honestamente, não saberia dizer qual o fator especifico a que se deve isso, mas eu acho que é basicamente porque a cultura do vinil era muito forte aqui, especialmente entre nosso grupo de amigos. Não é fácil ser um DJ de vinil na América do Sul porque os custos de envio de discos da Europa são muito altos e faltam grandes lojas especializadas na região, mas a verdade é que nada disso nos parou ou fez pensar em mudarmos o formato de música que usamos.
HM – Devido ao meu trabalho com Nicola Lutz, me tornei realmente conectada a cena uruguaia; acredito nele com DJ e o vejo fazendo o melhor no seu trabalho enquanto ainda era desconhecido. Esse trabalho me levou a buscar, ver e contribuir para a nova geração (não apenas do Uruguai) que está sendo influenciada por pessoas como ele, Bruno Gervais e DJ Koolt. Você também diria que eles são suas maiores influências? E o que mais você acha que contribuiu para você se tornar um DJ?
Z@P – Sim, sem dúvida DJ Koolt e Nicolas são minhas maiores influências… assim como o Bruno Gervais. Eu cresci ouvindo-os tocar em lugares como a Milenio e outras festas em Montevideo, acabamos nos tornando amigos. Quando você escuta esse tipo de DJ é impossível não gerar uma influência direta em você, são artistas de altíssimo nível.
Ter como referência esse tipo de artistas, é também uma das razões pela qual a cena uruguaia tem um alto padrão de qualidade, especialmente com o que ocorre hoje na Phonoteque e o grupo de DJs que tocam lá. Posso dizer que eles são até hoje os melhores DJs que já ouvi.
HM – Essa reputação uruguaia de “digger culture” os coloca de alguma forma a frente – de uma maneira que significa que vocês ficaram no passado e agora estão no futuro. Você concorda com isso? Como você percebe isso quando compara Uruguai à Europa? E, se tivesse que escolher uma residência permanente, você escolheria Uruguai ou a Europa nessa exato momento e porquê?
Z@P – Bom, é um pouco difícil te dar uma visão sobre estar aqui… provavelmente é algo inconsciente. Acho que o fator comum que caracteriza os artistas aqui é que estamos focados em fazer nosso próprio trabalho sem seguir muito a corrente (o que não significa que a cena ou som atual não terão uma influência), estamos sempre buscando algo real e puro.
Eu amo o Uruguai e gosto de viver aqui, mas no momento a cena da América Latina é bastante fracionada e viver de música aqui é quase impossível. Por sorte, isso está começando a mudar, as cenas estão se revitalizando em vários países, e acho que em alguns anos será mais fácil e fluido.
A diferença é que na Europa tudo está mais conectado e a cena não é de cada país, mas é uma cena que cobre todo a continente, o que nos dá mais possibilidades.
HM – Além de DJing, você na outra mão, fez alguns passos para dentro do universo de produção musical e acertou ao público europeu com releases na Melliflow e outras mais que virão. Não há na América do Sul tantos produtores quanto há DJs, porque você acha que é assim?
Z@P – Bom, na verdade venho fazendo música há muitos anos. Comecei a produzir e a tocar quase na mesma época, tenho alguns releases antigos mas em algum ponto eu parei de lançar músicas e tentei evoluir meu som e minhas experiências. No momento me sinto renovado e cheio de ideias e estou revisitando alguns desses antigos projetos e trabalhando neles.
HM – É sua primeira vez tocando no Brasil? Quais são suas expectativas?
Z@P – Na verdade, é minha segunda vez tocando no Brasil, a primeira foi alguns anos atrás em Carazinho, para um festa Sky12Hours. Mas em São Paulo será minha primeira vez e sim, estou super animado para tocar lá… é uma cidade que eu sempre quis visitar e tenho ouvido muitas coisas boas sobre a festa Subdivisions, então sim… estou muito ansioso para essa gig!
HM – Algum novo release, tour ou gig que você gostaria que nos compartilhássemos?
Z@P – Tenho um novo release na Traffic Records, de Frankfurt, que será lançado agora em março, e alguns outros releases ao longo do ano por labels variadas. Sobre tours, vou de novo à Europa por 2 semanas agora em abril e ficarei lá no verão, provavelmente até julho/agosto.