Como os clubs das cidades de interior estão mantendo a música eletrônica acesa em meio a desafios no mercado de entretenimento?

Por Mathews Dornelas

O setor onde a música eletrônica nasceu hoje parece estar passando por grandes dificuldades. Só pra vocês terem uma noção, lá no Reino Unido, 396 clubs fecharam entre 2020 e 2023. Em 2024, esse número aumentou para 5 por semana!

Isso é assustador e mostra como devemos parar agora e dar uma atenção para o tema. Então, pra entender essa luta, conversei com alguns responsáveis por clubs espalhados por diferentes Estados do Brasil:

Beehive | Guilherme Dornelles em Passo Fundo, RS;
Place Lounge | Tiago Greco em Cocal do sul, SC;
Bielle | Lucas Stiw em Cascavel, PR;
Privilège | Octavio Fagundes e Iuri Girardi em Juiz de Fora, MG;
Caos | Eli Iwasa em Campinas, SP
Vozz | Igor Noda em Cuiabá, MT

Na segunda parte dessa matéria, você poderá conferir a entrevista com cada um deles na íntegra, mas para resumir, consolidamos os 3 principais desafios que os clubs longe dos grandes centros estão enfrentando:

  1. Aumento do custo de produção de eventos e principalmente dos cachês dos artistas.

Após a pandemia os custos foram lá em cima e nunca mais baixaram. Infelizmente o que baixou foi o poder econômico, já que nossa moeda tem enfraquecido.

Sobre os cachês o problema em muitos casos é que não se paga com a venda de ingressos. Os valores não condizem com a realidade financeira das casas regionais; e nem sempre os artistas que estão bombando nas mídias sociais têm esse alcance refletido em público na hora e por diversos fatores.

Um desses fatores é o nosso segundo desafio:

  1. A concorrência e o mercado saturado.

Não é segredo pra ninguém que estamos tendo muitos eventos em 2024. São várias festas itinerantes, labels de fora do brasil e grandes festivais acontecendo por todo lado.

Aí fica difícil pros clubs competirem, já que estão disputando datas com eventos que são de maior interesse tanto dos managers e bookers na hora de fechar, quanto do público na hora de comprar ingresso.

E por falar no público:

  1. Entender as expectativas e o comportamento do público atual.

Mais uma vez tivemos uma mudança na geração que está frequentando os eventos e essa galera nova não é nada apegada com a cultura clubber que existia no passado.

Eles estão cada vez mais antenados com tudo que é novidade, buscando por experiências completas, na expectativa de ver grandes artistas, superproduções e que tem selecionado mais os eventos que vai!

O que torna totalmente inviável o trabalho semanal desses clubs (como era comum no passado). Por isso, os clubs se adaptaram:

Tem investido na experiência e diferenciação dos eventos dentro da casa, estão estudando e ouvindo seus frequentadores, estabelecendo parcerias com labels e festas itinerantes que possam agregar e alguns abriram o leque de estilos para receber um público mais amplo e se manter em relevância em suas cidades.

Para entender melhor, confira nossa entrevista com os representantes de alguns clubs relevantes do país: 

HM – Desde quando vocês estão atuando no mercado e realizando eventos de música eletrônica?

Beehive | Guilherme Dornelles

A Beehive surgiu em setembro de 2006 e neste ano completa 18 anos de trabalhos voltados à cultura da música eletrônica como um todo.

Bielle Club | Lucas Stiw

Acredito que desde a abertura em 11 de setembro de 1976 já se tocava músicas eletrônicas, pois durante um grande período desde a abertura já haviam apresentações de DJs na casa. Mas Renato Ratier foi o primeiro artista em uma noite de eletrônico na casa em 1997.

Vozz/Aram Produções | Igor Noda

Nos anos 2000 abri a primeira casa de música eletrônica aqui no Mato Grosso. Se chamava E-club e desde então não parei de atuar nesse cenário. De lá pra cá foram 6 clubs: E-Club / Floor / Musiva / Nuun Club / Nuun Garden (em atividade) / Vozz Club (em atividade).

Paralelo a isso, com outros sócios abri uma produtora de eventos que já tem 18 anos de atuação chamada Aram Produções.

Privilege JF/Grupo Privilege | Octavio Fagundes e Iuri Girardi

O grupo Privilège Brasil completa 25 anos de atuação em 2024, quando também comemoramos a fundação do club Privilège Juiz de Fora, nosso primeiro club.

CAOS | Eli Iwasa

Se considerar o Clube Kraft, desde 2003. Eu cheguei em Campinas em 2006, e reabrimos o Kraft em 2007.

Place Lounge | Tiago Greco

Começamos com a Place Lounge em junho de 2008, e agora estamos entrando no 16º ano do clube, sempre fiéis à música eletrônica. Nunca mudamos. Passamos por diversas fases. A Todai Ji Club tem 12 anos.

HM – Quais grandes atrações você já levou aí para a sua cidade?

Beehive | Guilherme Dornelles

Seth Troxler, Dubfire, Deadmau5, Marco Carola, The Blessed Madonna, Damian Lazarus, Lee Foss, Guy Gerber, Lee Burridge, Patrice Baumel, Adana Twins, Mano Le Tough, Bedouin, Guy J, Nastia, Magda, Hosh, Giorgia Angiuli, Jimi Jules…

Bielle Club | Lucas Stiw

A lista é robusta, mas podemos listar alguns que marcaram nossa memória:

Internacionais: Kaskade (2008), Layo & Bushwacka, Sharam (2012), Booka Shade (2013), Sander Van Doorn (2013), Boris Brejcha (2012/13), Dimitri Vegas & Like Mike (2013), Skazi, Vini Vici (2023).

Nacionais: Vintage Culture (2013/14/23), Alok, Gui Boratto várias vezes, Mochakk (22/23), Victor Ruiz várias vezes, Dubdogz (2023).

Vozz/Aram Produções | Igor Noda

Nesse tempo praticamente todos do cenário nacional, dos novos como Vintage Culture, Alok, Illusionize, Vegas, até os antigos como Ratier, Mau Mau, Anderson Noise e outros. Do cenário internacional nomes como Tiesto, David Guetta, Boris Brejcha, Stephan Bodzin, Loco Dice.

Privilege JF/Grupo Privilege | Octavio Fagundes e Iuri Girardi

Nestes 25 anos são incontáveis as experiências e atrações que já trouxemos em nossos clubs da marca. Podemos listar alguns que fazem parte da nossa história:

Entre os internacionais, temos: Carl Cox, Steve Angello, Solomun, Mauro Picotto, Pete Tong, Nic Fanciulli, Infected Mushroom, Layo & Bushwacka, Sven Vath, Dennis Ferrer, Claptone, Camelphat, Kolombo, Ashibah, Mat.Joe, Loulou Players, Art Department, Blond:Ish, Purple Disco Machine, Amine Edge & Dance, Tube & Berger, Kyle Watson, Sharam, Sharam Jey, Finnebassen, Claude Vonstroke, Lee Foss, Phonique, Olivier Giacomotto, Sonny Fodera, Croatia Squad, H.O.S.H., Patrick Topping, Jamie Jones, Dimitri From Paris, Oliver Heldens, Doctor Dru, Yves V, Dimitri Vegas & Like Mike, An21, Nicky Romero, GoldFish, Kaskade, Les Schmitz, Nalaya, Amo & Navas.

Entre os nomes brasileiros: Alok, Vintage Culture, Dubdogz, Chemical Surf, Cat Dealers, KVSH, Jord, Illusionize, Felguk, Meme, Liu, Gabe, Gui Boratto, Victor Lou, Bhaskar, Renato Ratier, Bruno Be, Volkoder, Tropkillaz, Anna, Wehbba, Elekfantz, e tantos outros.

CAOS | Eli Iwasa

Marco Carola, Laurent Garnier, Nina Kraviz, Ben Klock, Modeselektor, Adriatique, Dixon, Mind Against, Monolink, Whomadewho, Hernan Cattaneo, Vintage Culture, são tantos…

Place Lounge | Tiago Greco

Nesses 16 anos, trouxemos praticamente todos os artistas brasileiros do mercado e alguns internacionais. A fase dos gringos foi em 2009 e 2010.

Sirus Hood / Daniel Kuhnen / João lee / Deep Mariano / Southman / Hernan Cerbello / Kolombo em 2009 (primeira vez dele no Brasil) / Marcos Paz / Alex Niggemann / Jorgensen / Raul Boesel (ex-piloto de Fórmula 1) / Gustavo Bravetti / Gorge (do selo 8bit) / Jay West.

Gui Boratto / Anderson Noise / Fabrício Peçanha / Albuquerque / Victor Ruiz / Vintage Culture desde 2014 toca anualmente / Alok / Loulou Players / Renato Ratier / Mochakk / Dubdogz / Cat Dealers / Ownboss/ Classmatic / Lista nacional vai longe…

HM – Hoje, em 2024, quais os maiores desafios de manter um club de música eletrônica?

Beehive | Guilherme Dornelles

Durante os 16 anos como club, tivemos inúmeros desafios. Inicialmente as dificuldades eram geográficas e culturais, pois estávamos situados em uma cidade do interior do RS, distante dos grandes centros e com uma cultura ainda muito conservadora. Além disso, a logística local sempre foi um ponto de dificuldade, com poucas opções e altos custos. Também tivemos problemas e dificuldades burocráticas com órgãos públicos, como prefeitura e bombeiros (o antigo club era um patrimônio histórico da cidade). Os altos custos para manutenção do local originaram a necessidade de operar semanalmente, o que também passou a ser desafiador.

Nos últimos anos a média de eventos anual passou de 70 edições. A cidade possui um caráter universitário e não tem um poder aquisitivo semelhante a grandes centros, embora os custos operacionais sejam equivalentes.

Bielle Club | Lucas Stiw

Acredito que seja a matemática de cachê dos artistas X venda de ingressos proporcional ao valor. Atualmente é cada vez mais difícil o público comprar ingressos, principalmente se tratando de club que está fixo na cidade com eventos semanalmente.

O ideal seria fazer festas semanais, por se tratar de um club, porém o mercado não comporta mais isso. A nossa estratégia então é abrir quinzenal ou mensal, para que o público sinta uma falta dos eventos, mesmo assim, nem sempre o público compra a ideia por inúmeros fatores.

Um exemplo: artistas nacionais já vieram todos mais de uma vez, em festas itinerantes, ou em alguma label fora (e o público hoje tende mais a estes eventos ao ar livre).

Vozz/Aram Produções | Igor Noda

O poder econômico está mais baixo hoje. Produzir eventos tem se tornado muito caro e essa realidade de preços não tem se aplicado aos ingressos. Fora que pra clubs, essa cultura mesmo “mais Detroit, mais industrial e londrina” é uma coisa de uma geração passada, que não está mais na rua hoje em dia.

Privilege JF/Grupo Privilege | Octavio Fagundes e Iuri Girardi

Podemos dizer que atualmente o maior de todos os desafios é apresentar a cultura clubber para a nova geração de frequentadores. Uma geração que atingiu a maioridade durante a pandemia e que não teve oportunidade de se permitir viver esse movimento cultural. Hoje, vemos que esperam os clubs produções grandiosas e lines que se assemelham aos grandes festivais, pois são eles que a geração teve a oportunidade de ver e se encantar.

Mas sabemos que a realidade dos clubs é muito diferente e que se trata de um núcleo de pertencimento, de se sentir parte daquilo em um tratamento íntimo e pessoal.

CAOS | Eli Iwasa

Encontrar uma boa data em um calendário repleto de eventos de grande porte, o câmbio quando se trata de atrações internacionais, os cachês inflacionados

Place Lounge | Tiago Greco

Acreditamos que estamos em uma nova fase, que chamamos de “fase difícil”. Desde 2008, sentimos que o eletrônico passa por ciclos: uns 3 anos de força e tudo funciona bem, seguidos por uma fase mais difícil que dura de 1 a 2 anos. Isso acontece devido a diversos fatores como mudanças no geral no Brasil todo, crises financeiras e aceitação do público. Hoje, os altos custos para realizar eventos são o principal desafio.

HM – Você identifica alguma mudança pós pandemia em produzir eventos? Ficou mais difícil/fácil? Que estratégia você utilizou para essa retomada, vendo que muitos clubs fecharam?

Beehive | Guilherme Dornelles

Inicialmente a demanda foi maior, era natural em função do período de isolamento das pessoas. Mas os custos de produção aumentaram demais, chegando a dobrar em algumas áreas. Atualmente está muito caro produzir eventos no Brasil e a concorrência deixou de ser local passando a ser mais ampla.

Hoje a oferta de grandes eventos no Brasil é enorme e isso também dificulta labels e clubs menores, pois o público acaba optando apenas por alguns entre tantos que existem.

Bielle Club | Lucas Stiw

Os primeiros meses ou o primeiro ano pós pandemia acredito que, a nível mundial, foi uma explosão para todos os eventos devido ao tempo todo parado. Sinto que aconteceu uma mudança sonora principalmente no Brasil (o que considero bom) e que ainda está em processo.

Após a “boa colheita” de eventos, começou a ficar mais difícil da metade de 2023 até hoje – estamos em uma recessão (minha opinião, Lucas). Agora o público tem preferido eventos pontuais, externos, a exemplo de grandes festivais que estão vindo para o Brasil. Boa parte prefere guardar dinheiro por um tempo e ir a um grande evento do que ficar saindo dentro da cidade. E com a recessão econômica de modo geral as pessoas têm gastado menos com entretenimento e ficado mais em casa.

Vozz/Aram Produções | Igor Noda

Algumas características que percebi no pós-pandemia: Ecletismo, busca por formato de eventos “mais leves”, ao ar livre também tem sido muito valorizado e “menos industrial” e é nisso que temos investido muito aqui –na entrega, no conforto– e também vejo que o segmento de clubs teve uma queda muito grande no país.

Privilege JF/Grupo Privilege | Octavio Fagundes e Iuri Girardi

Acho que não é uma questão de ser difícil ou fácil, mas de tentar fazer diferente. Exatamente por a pandemia ter calado a voz dos clubs por certo momento da história, encontrar, atualmente, o meio termo para se conversar com públicos tão distintos se tornou o principal desafio, que exige uma renovação das mentes pensantes, uma atualização constante de linguagens e um estudo cada vez mais apurado de públicos e percepções dos clientes.

Olhar para os clientes, entender os anseios deles, buscar formas de adaptação é nosso constante desafio desde a pandemia.

CAOS | Eli Iwasa

Depois do boom e entusiasmos iniciais, o que temos encarado é o aumento no valor de fornecedores, essa corrida pelos headliners que pedem cachês altíssimos… a diversificação de nossas casas e projetos, não ficar presos somente a um estilo de música, algo que já fazemos há anos, foi essencial para nossos clubs.

Place Lounge | Tiago Greco

O pós-pandemia teve seu momento de auge no final de 2021, com eventos para poucos públicos vendendo muito rápido e a um baixo custo de produção. Em 2022, tudo vendia bem, pois as pessoas estavam sedentas por festa. Já em 2023, as coisas mudaram. Os altos custos e a perda de valor da nossa moeda tornaram a matemática apertada. Representando os dois principais clubes de música eletrônica do sul de SC, a Place Lounge e a Todai Ji Club, a organização e o trabalho bem-feito, sem muitos riscos, nos permitiram continuar abertos e funcionando.

HM – Na sua opinião, os cachês dos artistas hoje estão se pagando?

Beehive | Guilherme Dornelles

Na grande maioria dos casos não. Isso não é apenas em função dos cachês, mas os custos gerais para produção de eventos aumentou demais nos últimos anos, principalmente pós-pandemia. Durante quase 20 anos de trabalho no mercado da música eletrônica, eu não recordo de um período onde se percebe tantos produtores de eventos reclamando dos resultados. A conta não está fechando para muitos produtores e isso é preocupante para o mercado.

Bielle Club | Lucas Stiw

Na minha opinião não existe cachê caro, existe artista que vende ingresso para tal valor e outros não. Há uma bolha na internet que não é a realidade de cada região, pois nem sempre o que está girando nas mídias sociais é a realidade de quando se trás o artista.

Vozz/Aram Produções | Igor Noda

Em boa parte, não, os cachês não estão se pagando. Criou-se uma bolha muito alta de valores de artistas e isso não tem se revertido na venda de ingressos. Fora que as pessoas hoje estão valorizando mais a experiência propriamente dita do que os nomes dos artistas, a não ser em casos muito específicos em que o artista tem um som muito único e que o público está buscando exatamente por aquela linha de som.

Privilege JF/Grupo Privilege | Octavio Fagundes e Iuri Girardi

Percebemos uma explosão nos valores dos cachês dos artistas atualmente que muitas vezes não se paga com a venda de bilheteria.

CAOS | Eli Iwasa

Crédito: Gui Urban

Olha, tem muito produtor falando que a conta não está fechando, é uma conversa recorrente nos bastidores ultimamente, e muita gente, eu inclusive, decidi fazer ofertas que sejam condizentes com a nossa realidade e operações. Se não aceitarem, não mando oferta maior e é isso.

Place Lounge | Tiago Greco

Na minha opinião, os altos cachês estão agravando ainda mais a crise no mercado de entretenimento. Em alguns casos, esses valores não estão se pagando, o que complica a cena dos clubes.

HM – Como é o comportamento do público aí da sua região? Eles compram os eventos e apoiam, ou são imprevisíveis, ou vocês já dominaram?

Beehive | Guilherme Dornelles

Nós temos um público muito fiel à marca. Acredito que todos esses anos de trabalho ajudaram bastante na credibilidade da nossa entrega e pelo que percebemos temos um comportamento fora da curva em relação a outras labels da cidade/região e até mesmo do mercado como um todo. Hoje conseguimos trabalhar com uma venda antecipada expressiva e significativa para a região.

Bielle Club | Lucas Stiw

O público é muito bom, consome fervorosamente música eletrônica, mas também é muito exigente e “mal acostumado”, digamos assim: querem os maiores artistas e mesmo trazendo eles, nem sempre compram a ideia.

Vozz/Aram Produções | Igor Noda

Eu vejo que quando se acerta um nome, um desejo ou um formato específico de evento (proposta) você tem o apoio do público, sim. Particularmente por aqui temos o “controle” do mercado, em razão de não ter outras casas de música eletrônica concorrentes. Hoje trabalhamos não só com música eletrônica e percebemos que antigamente era até mais nichado: Essa casa aqui é de sertanejo, aquela de eletrônico, aquela outra, de outro estilo. Hoje não existe mais essa limitação, e por isso trabalhamos com diversos estilos para abrir o leque de público.

Privilege JF/Grupo Privilege | Octavio Fagundes e Iuri Girardi:

Como temos clubs em diferentes regiões do país –Juiz de Fora (MG), Búzios (RJ), Xangri-la (RS) e Vitória (ES)– essa percepção é muito variada, mas sempre existem aqueles que vão apoiar a música eletrônica e a cultura dos clubs.

Em muitos casos compram e valorizam, mas em outros o cenário fica muito imprevisível, principalmente quando a questão é a valorização das cenas locais e dos artistas que estão em início de carreira. Abrir portas para eles é um movimento natural e necessário para qualquer club, contudo, muitas vezes o público não apoia, por viverem ainda o foco nas grandes atrações e nomes dos highlights.

CAOS | Eli Iwasa

Temos feito um trabalho de “formiguinha” há muito tempo, para diminuir os VIPs, e estimular o público a comprar seus ingressos antecipadamente.

Place Lounge | Tiago Greco

O público em geral é sempre imprevisível, mas cada vez mais antenado. Nossas casas se sobressaem porque estamos sempre trazendo ou fazendo de tudo para trazer os melhores da cena.

HM – Por último, como está sendo o relacionamento com labels e festas itinerantes que estão presentes em sua região –elas ajudam a fomentar a cena eletrônica local, estabeleceram uma relação positiva ou vocês se sentem em uma disputa por atenção?

Bielle Club | Lucas Stiw

As labels e festas itinerantes só tem a somar e a fortalecer o mercado da música eletrônica, nós apoiamos e gostamos que elas aconteçam, de vez em quando também produzimos eventos externos (como no último aniversário do club). E para o público é muito bom.

Vozz/Aram Produções | Igor Noda

Eu acho que as labels são legais! Embora não tenha feito muitas por aqui ultimamente, acho que elas ajudam a fortalecer a cena local em que acontece uma disseminação do gênero. Sempre gostei de caminhar paralelo com grandes marcas, as vejo com bons olhos por conseguirmos junto a elas fornecer experiências diferentes para os frequentadores.

Privilege JF/Grupo Privilege | Octavio Fagundes e Iuri Girardi

As labels são sempre bem-vindas, pois trazem com elas o fomento de novos públicos. Construir uma cultura de música eletrônica forte exige um movimento conjunto e vemos isso como uma oportunidade para unir forças e apresentar aos cliente diferentes formas de viver e experimentar a música e o ambiente club.

CAOS | Eli Iwasa

Sempre buscamos ter bom relacionamento com todos, inclusive convidamos alguns para showcases ou para assinarem noites nos clubs. Aproximar e conectar pessoas e públicos, fortalecer a comunidade local –é por e para isso que clubs existem e onde eles fazem diferença.

Place Lounge | Tiago Greco

Estamos no interior de Santa Catarina, nas regiões de Criciúma e Tubarão. Festas itinerantes grandes de música eletrônica não acontecem com frequência, mas quando acontecem, nossos clubes estão envolvidos. Existem alguns núcleos pequenos, mas eles ajudam a fomentar nossas festas. Não são concorrentes e respeitam nossos clubes.

Beehive | Guilherme Dornelles
Pergunta adaptada: Porque você decidiu mudar o formato de casa noturna para produtora?

Entendemos que a vida é feita de ciclos. A Beehive sempre se transformou como marca. Durante estes quase 18 anos tivemos muitas mudanças e entendemos que era necessário dar um novo passo. O club já nos limitava em algumas ações e naquele momento o formato não fazia mais sentido para nós. Foram mais de 700 eventos como club, mas buscamos novas experiências, novas entregas e novos desafios.

Essa bandeira precisa ficar de pé se nós queremos uma cena saudável, pois é nesses estabelecimentos que novos artistas ganham suas primeiras oportunidades; que muita gente tem o seu primeiro contato com a pista de dança e com a música de uma forma mais “pura”, sem tantos estímulos visuais como é em grande parte dos festivais.

Tudo que eles precisam é que a gente continue os apoiando, indo aos eventos, propagando essa cultura de pertencimento que é tão especial dentro deles.

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