A Ucrânia historicamente está envolvida em conflitos sociais e de território devido sua posição geográfica. O país era parte da União Soviética e sua independência foi declarada somente em 1991. Antes disso, havia um forte controle estatal sobre a vida das pessoas, incluindo o conteúdo que consumiam como músicas. Tudo o que era proveniente do mundo ocidental era proibido pelo governo soviético.
Ao fim desse período, os jovens começaram a se influenciar pela cultura da música eletrônica, especialmente a alemã pela semelhança na luta do povo pela liberdade cultural e a inglesa, que tinha as raves urbanas em alta na época. Com isso, clubes e coletivos foram crescendo a cultura da noite no país ao lado de DJs pioneiros. Hoje, como alguns dos nomes mais importantes do país que carregam sua bandeira pelos festivais do mundo todo são Nastia, Artbat, Korolova, Miss Monique e Woo York.
O cenário de instabilidade política constante na Ucrânia fez da música mais um movimento de resistência pelo mundo, como já estamos acostumados a ver. Um exemplo importante é a proibição governamental de faixas com letras russas de tocarem nas rádios e na internet do país e até mesmo os ucranianos adotando o russo como uma linguagem do inimigo. Além disso, os clubes e festivais sempre foram ambientes de fuga para o terror que era vivido nas guerras.
Durante muitos anos, Kiev era um destino bastante procurado por clubbers europeus pela vibrante cena e o baixo custo no país, o que possibilitava temporadas e finais de semana muito bem curtidos em clubes como Closer, K41, nas raves organizadas pela Cxema ou festivais que reuniam milhares de pessoas como Ostrov e KaZantip. Mas, desde 2022 esse êxodo foi reduzido a praticamente zero com a invasão russa no país. A instabilidade tomou conta do país e alguns dos eventos e locais citados chegaram a encerrar as atividades.
Mesmo assim, a cena aos poucos tenta se recuperar com bares e eventos menores, embora em um tom mais sóbrio pelo trauma vivido pela população recentemente. Os DJs mais importantes do país como os citados anteriormente tem ajudado a cena com doações e eventos em apoio à reconstrução.
A música salva. Nos últimos meses é comum circular alguns vídeos de jovens ucranianos se organizando com DJ e música eletrônica para limpar os destroços deixados pela guerra. Em uma matéria do The New York Times republicada pelo Estadão, o criador do coletivo Cxema afirmou que ultimamente ouvir música se tornou um ato que torna as pessoas apreensivas. Em festivais, qualquer som abrupto pode ser confundido com um míssil ou bomba, e ouvir no fone de ouvido deixa as pessoas ansiosas sem saber se estão seguras ou não naquele momento.
A perspectiva é de uma recuperação a longo prazo, visto que a guerra ainda está em andamento e os impactos culturais e econômicos na Ucrânia ainda nem podem ser medidos, mas uma coisa é certa: a música e o setor de eventos serão fatores chave para o povo recuperar a alegria e a autoestima na vida.
Por Adriano Canestri