No Mato Grosso do Sul a cena independente luta na contracultura de uma região sem apoio. Quais os motivos?

Em um país de extensão continental como o Brasil, é natural encontrar culturas diferentes espalhadas pelas regiões, inclusive na relação da população com o consumo de música. Durante mais de um ano realizando a coluna Coletivos do Brasil vimos cenas plurais em todas as regiões brasileiras. Algo comum em todas é o fato de que os principais fomentadores do movimento clubber são os produtores independentes. 

No Mato Grosso do Sul, chama atenção a baixa pluralidade de coletivos. Portanto, para entender melhor a cena local e os motivos de estar enfraquecida atualmente, convidamos DJ Najja, idealizadora do Techno Na Rua, para um bate-papo! 

Confira a seguir as maiores dores dos produtores sul-mato-grossenses.

House Mag: Como tem sido o apoio da comunidade clubber da região com os movimentos independentes?

DJ Najja: O apoio da comunidade Clubber da nossa região tem sido construído aos poucos, com muita persistência e dedicação. Campo Grande-MS, historicamente não tem um cenário consolidado de música eletrônica underground. No entanto, com o Techno na Rua, temos conseguido romper essa barreira. Em três anos de história, realizamos eventos públicos gratuitos e privados, sempre com o objetivo de movimentar a cultura underground. Apesar das dificuldades, temos visto um engajamento real da comunidade. Hoje, conseguimos reunir um público fiel, que entende e valoriza a proposta do nosso projeto.

HM:  Nos últimos meses, quais foram as principais dificuldades sentidas por você e demais produtores do estado?

DJ Najja: Nos últimos meses, as dificuldades enfrentadas pelos produtores independentes de música eletrônica no Mato Grosso do Sul tem se intensificado, especialmente pela falta de estrutura adequada para realização de eventos. Não contamos com clubes voltados à música eletrônica, os espaços alternativos não oferecem a infraestrutura necessária, e também não demonstram interesse em fomentar essa cultura. 

DJ Najja/Divulgação

HM: Os governantes facilitam a realização dos eventos independentes? Qual a relação de vocês produtores com as autoridades?

DJ Najja: Há uma ausência quase total de incentivo por parte das autoridades públicas. A cultura da música eletrônica ainda é marginalizada no estado, que tradicionalmente prioriza manifestações culturais ligadas ao agronegócios, ao sertanejo e ao funk. Isso gera um desequilíbrio no acesso a recursos, editais, apoio institucional e visibilidade.

HM: Quais fatores você vê como maiores afastadores do público da música eletrônica no estado?

DJ Najja: Essa soma de fatores: falta de estrutura, escassez de eventos, baixa frequência e marginalização cultural. Cria barreiras, tanto para quem quer produzir quanto para quem quer consumir. Felizmente, projetos como o Techno na Rua vêm justamente para quebrar essas barreiras, levando a música eletrônica para o espaço público e mostrando que ela é, sim, parte da identidade cultural da nossa cidade.

HM: Existe diferença na mobilização para assistir marcas ou artistas maiores ao invés de apoiar os produtores locais?

DJ Najja: Sim, existe uma diferença muito evidente na mobilização do público quando se trata de artistas de renome nacional ou internacional em comparação com os produtores e artistas locais. 

Quando são produtores locais que organizam eventos com artistas do movimento underground e talentos regionais, o engajamento é muito menor, mesmo oferecendo eventos gratuitos ou acessíveis. Isso revela uma valorização desigual, onde só se reconhece o valor da música eletrônica quando ela vem associada a grandes marcas ou nomes já consolidados no mercado. 

HM: Quais motivos tem feito os produtores locais abandonarem o mercado?

DJ Najja: Um dos principais fatores é o desgaste emocional e financeiro de tentar manter o movimento vivo praticamente sozinho. A ausência de espaços adequados, a falta de incentivo do poder público e a escassez de parcerias com marcas ou apoiadores faz com que isso pese nas costas dos produtores independentes. 

Além disso, a baixa valorização do público em relação às iniciativas locais também desmotiva. É muito comum vermos grandes públicos se mobilizando para eventos comerciais ou com artistas de fora, enquanto os eventos locais, com artistas talentosos e propostas inovadoras, lutam para preencher o espaço. Isso faz muitos produtores se sentirem invisíveis e sem retorno, mesmo investindo tempo, dinheiro e energia. 

HM: Deixe uma mensagem convidando os sul-mato-grossenses a darem um voto de confiança para a música eletrônica!

DJ Najja: Valorizem a música eletrônica local. Participem dos eventos independentes, conheçam os artistas locais, fortaleçam os projetos que estão fazendo acontecer. A cena só cresce com vocês, e acreditem, tem muita coisa linda acontecendo aqui, feito por quem ama o que faz e acredita no poder da cultura underground!!

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